Em 2001 recebemos a chamada de Raúl Piñeiro, esse elo entre os músicos bretões e galegos de fins do XX ao que tanto lhe devemos. Logo de possibilitar a chegada a Galiza de bandas como Gwerz, Den, Skolvan, Kemia, Pennou Skoul ou Kern avisava desta volta da próxima celebração em Vigo dum concerto de mestres da fisterra bretã acompanhando à solista do “Mistério das vozes Búlgaras” Kalinka Vulcheva. O elenco era um luxo. Erik Marchand ao clarinete, Jacky Molard ao violino, Jean-Michel Veillon a flauta travesseira, Doming Molad à percussão e Jacques Pellen à guitarra. Raúl sabia das iniciativas relacionadas com o ensino que estávamos levando a cabo com o Conservatorio de Música Tradicional e Folque de Lalim, e sabia que estaríamos interessados em organizar umas aulas magistrais com estes músicos. Ao nosso entusiasmo somou-se também o da Aula Gomes Mouro de Ourense e o das aulas de música tradicional da Escola de Música Municipal da Corunha.
Foi uma experiência valiosa a que partilhamos em Lalim aquele 15 de Dezembro, uma maravilhosa irmandade gremial. Enquanto Marchand ou Molard, explicavam os tesouros da ornamentação e a expressividade da sua rica tradição oral, Pellen fazia o caminho inverso. Desde a sua guitarra, e como autor do seu tempo, confrontava como levar ao seu universo musical, e particularmente ao seu instrumento, o rico manancial musical contido no canto oral da Bretanha.
Na ceia de aquela marcante jornada, e depois de pedir que retiraram da mesa um Marques de Cáceres porque estava “mal débouché”, Erik Marchand adoptou um semblante sério e solene, parecia que algo importante estava pronto a desvelar. “Nos meus anos como músico –começou- só conheci uma pessoa que conseguiu emular a expressividade do canto bretão na guitarra mas –continuou- infelizmente parece que não é (só) isso o que quer fazer.”
Os olhos dos Molard, de Veillon e do próprio Marchand dirigirom-se orgulhosas a aquele génio de palavras certeiras e indecifrável olhar.
Jacques Pellen foi um extraordinário músico do seu tempo. Nas suas influências musicais mostrou-se interessado desde Bill Evans até Olivier Messiaen passando por Keith Jarret e Arnold Schoenberg. Mergulhado na exploração dos seus limites criativos, mas sempre com o olho aberto a sua rica tradição local. Alguns lembraram-no como “um dos mais formidáveis guitarristas do jazz europeu de todos os tempos”, outros polas suas sólidas achegas ao folque bretão com Triptyque, Celtic Procession ou Gwerz. Nos fechamos os olhos para escuitar novamente as gerações e gerações de afectos e dores contidas nos velhos cantos que nos revelaram de forma tão luzida as mãos de Pellen. Bom voyage Jacques
Jacques Pellen finou o 21 de abril do 2020 por causa do COVID-19.
40:50 An Hañv